LUÍSA GERALDES
IYENGAR YOGA


YOGA
“The yogi conquers the body by the practice of asanas and makes it a fit vehicle for the spirit. He knows that it is a necessary vehicle for the spirit. A soul without a body is like a bird deprived of its spirit to fly”.
B.K.S. Iyengar, Light on Yoga
O yoga é uma disciplina para a mente.
Prepara o praticante para a realização do Eu como livre de sofrimento, ilimitado e pleno. Para esta realização, o praticante necessita de uma mente lúcida, clara e tranquila.
Os Yoga Sūtras, escritos por Patañjali, são a expressão em aforismos deste conhecimento e visão ancestrais.
O segundo capítulo destes 196 sūtras apresenta o yoga dos oito membros ou partes (aṣṭāṅga yoga):
Yamas e Niyamas
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O caminho começa com os yamas e niyamas, os dois primeiros membros do aṣṭāṅga yoga.
Uma mente clara e tranquila não pode surgir se não existe um código de ética e sentido de disciplina estabelecidos.
Sūtra II.30 ahiṁsā-satyāsteya-brahmacaryāparigrahā yamāḥ
Non-violence, truth, abstention from stealing, continence, and absence of greed for possessions beyond one’s need are the five pillars of yama.
Sūtra II.32 śauca-santoṣa-tapaḥ-svādhyāyesvara-praṇidhānāni niyamāḥ
Cleanliness, contentment, burning desire, self-study, and surrender of the self to the supreme Self (ātman) are the niyamas.
Estas disciplinas dirigem os órgãos de ação e os sentidos na direcção certa. Todos estes valores se integram e a observância de um conduz aos outros. O praticante necessita segui-los em ordem de manter a mente estável e serena.
Āsana
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O terceiro membro do aṣṭāṅga yoga é o āsana.
Sūtra II.46 sthira sukham āsanam
Āsana é perfeita firmeza do corpo, firmeza de inteligência e benevolência do espírito.
Āsanas, o elemento mais visível e popular da disciplina do yoga, são as posturas. Pela prática dos āsanas, a mente foca-se no corpo e os seus efeitos são inesgotáveis. O āsana tem cinco efeitos chave: eleva a saúde geral do praticante; torna a respiração mais profunda; conduz a mente a um estado meditativo; revela padrões e comportamentos estabelecidos; conecta o praticante com o Divino.
Corpo mais saudável
A prática apropriada de āsanas eleva a saúde geral do praticante. Gera uma sensação de vitalidade, força, confiança e consciência corporal. Corrige a postura do praticante e maus hábitos resultantes de uma vida sedentária. Por exemplo, umas costas curvadas e um peito fechado não ajudam a aliviar o stress pois não é possível respirar profundamente. E se uma pessoa está stressada, é mais difícil considerar o Eu (ātman) como felicidade em si mesmo.
No sūtra I.30 dos Yoga Sutras de Patañjali, a doença física (vyādhi) surge como o primeiro obstáculo à realização do Eu (ātman).
Numa fase inicial, o āsana torna o corpo mais saudável e ajuda a recuperar e superar diversos problemas de saúde.
Respiração mais profunda
Existe uma significativa relação entre a respiração e a mente.
Quando uma pessoa está sob stress ou com medo, a respiração torna-se curta e rápida. A essa pessoa diz-se para “respirar fundo” a fim de se acalmar.
Como referido, umas costas curvadas e um peito fechado indiciam falta espaço para uma respiração profunda. Mas se o praticante aprende como expandir o peito a respiração transforma-se. Torna-se mais profunda e longa.
Com uma respiração mais profunda e longa, a mente torna-se mais clara e tranquila.
Mente num estado meditativo
A prática do āsana exige atenção, foco e concentração.
Especialmente no método de yoga IYENGAR®, a mente não pode estar noutro lugar senão no corpo e nas suas ações.
Os conceitos de alinhamento e precisão, que tornam a prática IYENGAR® de āsana única, conduzem a mente a um estado meditativo. A mente tem que estar totalmente presente em todas as partes do corpo. O praticante desenvolve o foco no presente, não se agarrando ao passado ou projetando no futuro.
Revelação de padrões e comportamentos
O tapete de yoga funciona como um campo de experimentação da vida. A prática de yoga é o reflexo da vida de cada um.
Para cultivar uma mente clara e tranquila, o praticante necessita ser consciente dos padrões de comportamento que contribuem para um estado oposto àquele.
A forma de como a pessoa age e se relaciona com o mundo é baseada em medos, traumas, crenças e dogmas resultantes de experiências vividas. Para desenvolver uma mente estável, é necessário superar essas concepções erradas e ser mais objetivo, destemido e grato.
A prática de āsana confronta o praticante com muitos desses medos e crenças. Frequentemente, é difícil enfrentá-los e superá-los, mas é um passo necessário para o praticante que quer crescer espiritualmente e alcançar um estado de vida tranquilo.
Conexão com o Divino
Tudo é divino, e o āsana conduz o praticante à consideração do divino no mundo e em si mesmo.
Quando pratica āsana atentamente, o praticante começa a perceber a divindade em toda parte. O corpo é um micro cosmos que reflete o macro cosmos. As relações e conexões que pode observar no corpo revelam a inteligência e a natureza subjacentes, e que não são um resultado da sua vontade.
O praticante pode escolher mover o dedo grande do pé, mas o efeito que esse movimento exerce na rótula do joelho não. Este não é um resultado da sua vontade mas sim da criação, da consciência universal (brahman).
Todos têm livre arbítrio mas no final é a natureza que se supra impõe. Este entendimento torna a pessoa mais humilde e permite-lhe compreender a divindade em toda parte, inclusive em si mesmo.
Prāṇāyāma
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A quarta parte do aṣṭāṅga yoga é prāṇāyāma.
Sūtra II.49 tasmin sati śvāsa-praśvāsayor gati-vicchedaḥ prāṇāyāmaḥ
Prāṇāyāma é a regulação do fluxo de entrada e saída da respiração com retenção. Deve ser praticado somente depois da perfeição no asana ser alcançada.
Tal como já mencionado, a relação entre a respiração e o estado da mente não pode ser subestimada.
“Energia (prāṇā) e consciência (citta) estão em contacto constante. São como gémeos. O prāṇā dirige-se para onde está citta, e citta para onde está o prāṇā. Nos textos yogis, diz-se que enquanto a respiração está estável, o prāṇā está estável e assim também está citta. Todos os tipos de flutuações param quando o prāṇā e citta se encontram estáveis e em silêncio.”
Light in the Yoga Sutras of Patañjali”, B.K.S. Iyengar
Pratyāhāra
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O quinto membro do aṣṭāṅga yoga é pratyāhāra.
Sūtra II. 54 svaviṣayāsamprayoge cittasya svarūpānukāra ivendriyāṇāṁ pratyāhāraḥ Recolher os sentidos, a mente e a consciência do contacto com os objetos exteriores, e voltá-los para dentro daquele que observa, é pratyāhāra.
“Agora a mente é capaz de se concentrar e os sentidos já não importunam a mente para sua gratificação. Aqueles perdem o interesse nos gostos e sabores dos seus respectivos objetos e retiram-se do mundo exterior para ajudar a mente na sua busca interna. Isso é pratyāhāra.”
Light in the Yoga Sutras of Patañjali”, B.K.S. Iyengar
Dhāraṇā, Dhyāna, and Samādhi
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O sexto, sétimo e oitavo membro do aṣṭāṅga yoga são dhāraṇā, dhyāna, e samādhi.
Sūtra III.4 trayam ekatra saṁyamaḥ
Estes três juntos –– dhāraṇā, dhyāna, and samādhi – constituem integração ou saṁyama.
“Dhāraṇa é a atenção num único ponto. Evoluí para dhyāna pela sustentação no tempo, dissolvendo-se o seu caráter uni-direccionado implícito na palavra “concentração”. Quando se transforma numa atenção no todo, difusa, conduz à absorção total (samādhi). O prolongamento contínuo destes três aspectos subtis do yoga forma, assim, uma única unidade, chamada saṁyama. Saṁyama é um estado de imobilidade e um saṁyami é aquele que subjuga suas paixões e permanece imóvel .”
Light in the Yoga Sutras of Patañjali”, B.K.S. Iyengar
NOTA: Tradução livre dos Yoga Sutras a partir do “Light in the Yoga Sutras of Patañjali”, B.K.S. Iyengar